Correio do Minho: Entrevista ao Presidente da ACB, Domingos Barbosa

23 Dez 2020

1- Já é possível à ACB fazer um balanço do impacto da pandemia covid-19 no tecido empresarial do concelho de Braga, nomeadamente no comércio, restauração e alojamento turístico?

Com os efeitos da pandemia até ao mês de novembro de 2020, a ACB estima que a perda de faturação no comércio, turismo e serviços tenha ascendido a 330 milhões de euros.

Se atendermos às quebras de faturação verificadas em alguns dos setores mais afetados pela pandemia, comparando dados do período de março a novembro de 2020 com o período homólogo de 2019, temos quebras muito significativas na restauração (menos 41,3%), na moda e acessórios (menos 38,8%); nos alojamentos turísticos (menos 55,1%); e, no subsetor do lazer e viagens (menos 76,3%).

A evolução dos pagamentos eletrónicos por concelho na área de influência da ACB no período de janeiro a novembro de 2020, em comparação com o correspondente período homólogo de 2019, dá-nos uma leitura que parece menos penalizante da atividade comercial na região. Nos concelhos de Braga e Vieira do Minho registam-se recuos de 11,1% e 9,2%, respetivamente; enquanto que nos concelhos de Amares (+0,9%), Póvoa de Lanhoso (+0,3%), Vila Verde (+5,0%) e Terras de Bouro (+10,1%) registou-se uma variação positiva. Neste contexto, há que salientar o nível de resiliência dos concelhos de baixa densidade, que beneficiaram das dinâmicas de turismo interno registadas durante o período de verão.

Apesar da quebra de 15% nas exportações (menos 145 milhões de euros do que em igual período de 2019), o comportamento do setor exportador tem-se mantido relativamente resiliente à crise provocada pela pandemia. Este menor impacto deve-se, sobretudo, à especialização setorial das empresas exportadoras de Braga assente na tecnologia, engenharia e construção, automação, metalomecânica e acessórios para a indústria automóvel.

No que concerne à evolução do desemprego, o concelho de Braga também se tem mostrado bastante resiliente. Em outubro de 2020, registou-se sensivelmente o mesmo número de desempregados de abril de 2020. Esta ligeira variação fica a dever-se à aplicação de medidas públicas de apoio ao emprego que obrigam as empresas ao não despedimento de pessoal.
Em suma, importa não esquecer que a persistência de uma crise sanitária e económica desta natureza por vários meses ou até anos vai inevitavelmente fragilizar o nosso tecido empresarial e provocar mais encerramentos e falências. Com efeito, temos de continuar a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, porque é preciso salvar as empresas e os postos de trabalhos que são viáveis.

2- As sucessivas medidas de apoio do Governo têm sido adequadas, no tempo e na sua expressão qualitativa e quantitativa?

Para além de insuficientes e em dimensão bem menor ao que sucede em outros estados da União Europeia, os apoios às empresas têm surgido de forma tardia e reativa, quando se imponha que chegassem ao tecido empresarial de forma rápida e preventiva.

Temos de saudar e reconhecer o esforço dos Municípios e do Governo em criar e implementar, em diálogo com as empresas e associações empresariais, medidas de mitigação dos impactos económicos e sociais da pandemia. O lay-off simplificado foi um bom exemplo de uma medida com efeitos fundamentais para a manutenção de postos de trabalho num período tão difícil para muitas empresas. Porém, a margem de mobilização de recursos financeiros no nosso país é muito limitada, tendo, infelizmente, sido descontinuada a medida do lay-off simplificado.

Os efeitos da pandemia na economia, nas empresas e na sociedade vão perdurar, exigindo-se que sejam mantidos os incentivos a fundo perdido e lançados novos instrumentos de apoio ao investimento e capitalização das empresas. Temos consciência da limitação de recursos, mas tudo devemos fazer para salvar o nosso tecido empresarial, porque em causa está o principal pilar e garante da manutenção do emprego, da criação de riqueza e da nossa qualidade de vida e bem-estar.

3 – E da parte do Município? O que tem sido feito foi o possível ou há outras medidas que possam considerar tendo em vista o prolongamento dos impactos económicos da pandemia?

O prolongamento dos impactos económicos e sociais da pandemia exigirá a adoção de novas medidas de apoio por parte dos Municípios, obrigando-os a redefinir prioridades e a repensar a afetação de recursos nos próximos dois anos.
Temos de reconhecer o esforço do Município de Braga no combate à pandemia, na ajuda às entidades locais de saúde e do setor social, educativo e comunitário, bem como em termos de adoção de medidas de apoio às empresas e famílias.

Estamos muito preocupados com o desalento e a perda de confiança empresarial evidenciados por muitos colegas empresários e empresárias; porque esse estado de espírito influenciará negativamente a capacidade de empreender que é necessária e indispensável para que aconteça uma retoma sustentada nos setores mais afetados pela pandemia, como a restauração, o comércio não alimentar, o alojamento turístico, a realização de eventos, entre outros.

4 – As vendas de Natal e Ano Novo que estão a decorrer, até que ponto vão atenuar os prejuízos registados pelas empresas ao longo dos últimos meses?

Em determinados ramos do comércio e serviços mantém-se a esperança de que este período tão especial do ano ajude a atenuar os prejuízos registados ao longo do ano.

Todavia, há setores, atividades e muitas empresas que vão, inevitavelmente, encerrar o ano de 2020 com quebras de faturação muito significativas. Sem turistas e pessoas que venham a Braga para fazer compras, haverá um decréscimo muito forte na atividade do comércio de rua e dos serviços do centro da cidade. Para potenciarem as vendas, as empresas e setores mais afetados pela pandemia estão a desenvolver estratégias de sobrevivência, no sentido de atrair a atenção e preferência dos consumidores.

No atual período de Natal e Ano Novo, todos as vilas e cidades da nossa região e do país estão a apostar, como nem sempre sucedeu, em fortes campanhas de atração de consumidores para o “Comércio Local”, com uma multiplicidade de mensagens de apelo às compras nas lojas que animam e dão vida às diversas localidades.

Com a decoração, iluminação e sonorização de natal nas ruas e lojas de Braga está criado um ambiente apelativo e cosmopolita que, seguramente, não deixará de atrair e encantar os consumidores que nos visitam.

5- Porquê a associação ao Sporting Clube de Braga para a principal iniciativa de promoção do comércio local levada a cabo pela ACB nesta quadra?

Com as fortes restrições à realização de eventos e circulação de pessoas fomos obrigados a alterar o habitual programa de animação de natal e ano novo, verificando-se o inevitável cancelamento das principais iniciativas de animação de rua. Daí, a aposta num Sorteio de Natal atrativo com o objetivo de promover e dinamizar o comércio de rua e proximidade dos concelhos da área de influência da ACB.

Tínhamos e temos de encontrar respostas que possam minimizar os impactos negativos da pandemia sobre a atividade comercial, a restauração e outras atividades económicas tão afetadas por esta tão grave crise sanitária e económica. Foi neste contexto de grandes dificuldades para muitas atividades que o Sr. Presidente do Sporting Clube de Braga, António Salvador, se disponibilizou para apoiar a ACB numa dinâmica conjunta de promoção do comércio. Tal atitude demonstra bem a grandeza e visão das pessoas que hoje servem o Sporting Clube de Braga, por entenderem que no desenvolvimento da cidade o comércio, a par da história, da cultura e do desporto, será sempre uma força motriz da afirmação da marca Braga. É neste espírito de cooperação e solidariedade que se insere esta iniciativa conjunta da ACB e do SCB, em favor de quem dinamiza o comércio e serviços da nossa cidade e região.

Gostaria ainda de lembrar que tendo a ACB a perceção de que esta crise afetou de forma diversa os vários sectores económicos, fez um apelo aos colegas empresários dos setores menos afetados pela pandemia desafiando-os a aplicar o esforço financeiro que tradicionalmente faziam com o jantar de Natal dos seus colaboradores, e transformá-lo este ano na oferta de cabazes de Natal ou vouchers e entregá-los aos seus colaboradores por forma a ajudar os setores mais afetados pela pandemia.

6 – É possível antever 2021? Estima-se a recuperação económica a partir de quando?

Encaramos o próximo ano com muito expectativa e grande prudência, dado que há sinais de prolongamento dos impactos negativos da pandemia até ao final do primeiro semestre do ano.
O ano de 2020 foi atípico e muito desafiador. Foi o ano da maior quebra da atividade económica alguma vez ocorrida em muitos países, territórios e empresas. Os impactos mais fortes foram sentidos nas economias urbanas e de grandes aglomerados económicos. As atividades económicas nos territórios do interior foram as menos afetadas, ou seja, as mais resilientes, beneficiando em muitos casos de fluxos turísticos e de consumo que antes não conseguiam conquistar.

Mais do que nunca ficou bem patente que unir esforços, trabalhar em parceria e procurar soluções em conjunto para toda a comunidade fez toda a diferença na superação de muitas das dificuldades que enfrentamos do ponto de vista sanitário e económico.

Por isso, tenho a certeza de que 2021 será um ano muito desafiante para todos. Creio também que juntos seremos mais fortes na superação das dificuldades e, sobretudo, na busca do alento necessário para trilhar o árduo caminho que temos de percorrer para ir o mais longe possível na tão desejada e necessária retoma da vida económica e social que tínhamos antes da pandemia.

Uma recessão a nível global, um eventual “Brexit” sem acordo, uma evolução sem eficácia do processo de vacinação da população contra a Covid.19, bem como outras incertezas ao nível da produção e comércio internacional, são outras realidades que também podem condicionar desfavoravelmente a nossa atividade em 2021. Esperemos que os piores cenários não se confirmem e que o novo ano seja de prosperidade e bem-estar.

Próximos cursos
Agenda
Bootcamp prático | Vídeo nas redes sociais para empresários e profissionais
11 de Novembro, 2025
Sessão | RH para equipas mais fortes e negócios mais ágeis
13 de Novembro, 2025
3.º Workshop | Riscos, Oportunidades e Impacto Empresarial da Sustentabilidade
18 de Novembro, 2025
3.º Workshop | Riscos, Oportunidades e Impacto Empresarial da Sustentabilidade
18 de Novembro, 2025
Torne-se associado
A AEB oferece aos seus Associados uma série de vantagens nos serviços que presta.