Artigo de opinião | A cidade do futuro: das Smart Cities ao Smart Living

26 Set 2025

A cidade do futuro não se constrói apenas com tecnologia, sensores ou algoritmos. Constrói-se, acima de tudo, com pessoas. Serão elas, enquanto cidadãos exigentes e participativos, que serão as verdadeiras protagonistas desse futuro, e é a pensar nelas que as respostas devem ser desenhadas.

Hoje, a participação dos cidadãos nos processos de fazer cidade ainda continua muito circunscrita a exercícios pontuais, como é o caso dos programas eleitorais abertos. Isso é manifestamente insuficiente. Os cidadãos anseiam por mais. A cidade do futuro exige espaços regulares de diálogo, fóruns permanentes de cocriação e mecanismos de envolvimento que permitam às pessoas serem parte integrante, de forma regular, das decisões que impactam as suas vidas e o seu território. Os orçamentos participativos são uma boa prática já adotada por muitas autarquias, mas devem ser reforçados e complementados novas formas de participação cívica.

Este novo paradigma não depende apenas das instituições e dos políticos, exige também mais de nós, cidadãos. Uma cidade mais democrática e inclusiva precisa de maior participação cívica, mais envolvimento, mais corresponsabilidade. Não basta reclamar de fora e apontar o dedo; é preciso entrar no processo e ajudar a construir soluções. Recordo as palavras inspiradoras, e completamente atuais, de um dos líderes políticos mais carismáticos da história moderna – John F. Kennedy – que, há 64 anos, no seu discurso de tomada de posse como Presidente dos Estados Unidos da América desafiou os americanos a terem uma atitude proativa: “não perguntem o que é que o vosso país pode fazer por vocês, perguntem o que é que vocês podem fazer pelo vosso país”.

Importa também que o processo de fazer cidade avance do conceito de smart city, enquanto mera gestão inteligente dos recursos públicos, para o de smart living, que propõe uma cidade orientada para o bem-estar, a conveniência e a qualidade de vida de quem nela habita. Porque as políticas não devem ter como foco central os processos ou a máquina administrativa do Estado, mas sim a vida das pessoas.

Creio que este conceito pode e deve articular-se com o modelo de organização urbana defendido pelo urbanista Carlos Moreno da cidade de 15 minutos, que defende uma cidade pensada para que cada pessoa tenha tudo ao seu alcance, independentemente da zona onde vive: trabalho, escola, saúde, cultura, comércio e lazer. Uma cidade policêntrica, próxima e acessível, que reduz desigualdades e cria tempo para que as pessoas vivam melhor.

Para que tal seja possível, é fundamental promover uma rede de mobilidade sustentável, que privilegie os modos suaves e que reforce a atratividade e eficiência dos transportes coletivos, porque a mobilidade é o fio condutor que liga oportunidades, comunidades e qualidade de vida.

Mas falar de futuro é também falar de sustentabilidade. A cidade deve ser desenhada para reduzir a sua pegada ecológica, através da eficiência energética, da promoção da economia circular, da valorização dos espaços verdes e da proteção dos recursos naturais. Uma cidade sustentável é aquela que consegue crescer sem comprometer o bem-estar das gerações futuras, equilibrando desenvolvimento económico, coesão social e respeito pelo ambiente.

Ao mesmo tempo, é essencial que a cidade e as suas políticas públicas assegurem dois pilares fundamentais para que cada pessoa possa ambicionar uma vida melhor: o acesso a uma habitação digna e a oportunidades profissionais compatíveis com as suas qualificações. Só assim será possível projetar vidas com confiança e esperança.

Se queremos uma cidade de futuro, não podemos aplicar políticas do passado. Precisamos de inovar não só nas soluções, mas também na forma de fazer política. Só assim conseguiremos uma cidade verdadeiramente humana, onde a tecnologia é ferramenta e não fim, e onde cada pessoa sente que pertence, participa e tem voz.

Porque o futuro das cidades será, inevitavelmente, o futuro das pessoas que nelas vivem.

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